Dia
desses, ouvi uma "mãe-recente" discursando a respeito dos motivos pelos quais ela
deixaria de ir ao show de um dos seus cantores favoritos.
O motivo
apontado me pareceu muito nobre e bastante coerente num primeiro momento. Ela
dizia que não iria ao show do cantor, pois acreditava que não era necessário
deixar seu bebê com outra pessoa, para curtir o espetáculo, pois este momento
que ela estava vivendo era de dedicação exclusiva a ele (ao bebê).
Até aí, compreendi
a decisão e achei bastante coerente a fala e atitude desta puérpera. Afinal, eu
também abri e ainda abro mão de muitos eventos sociais depois que minha filha
nasceu e faria tudo novamente.
Entretanto,
o que me chamou atenção nesta estória foi que, pouco tempo depois descobri que
o bebê tinha na ocasião cinco meses e o referido show, do seu cantor favorito,
aconteceria dali há três.
Ou seja,
quando o show tiver ocorrido, o bebê estará com oito meses de idade. E,
obviamente, um bebê com oito meses de idade não é o mesmo bebê de cinco meses. Já terá
sido introduzido à alimentação complementar, já estará mais maduro, talvez até engatinhando,
quem sabe até andando? Estará descobrindo mais e mais o mundo e apropriando-se
de sua independência. Afinal este é o caminho que os filhos percorrem (ou
deveriam percorrer).
Em três meses, as necessidades dele serão outras e as necessidades desta mãe também.
Ao tomar
esta decisão "prematura", sobre ir ou não ao show, acredito que esta mãe não levou
em consideração os fatores apontados. Mas, tudo bem, isso é altamente
perdoável, porque durante o puerpério a mulher fica fusionada ao seu bebê, vivendo
uma espécie de simbiose, o que a dificulta e muito a tomada de decisões, principalmente as de longo prazo.
Porém, o
estranhamento maior que observei nessa estória, foi que esta mãe terminava seu
discurso sobre a escolha de não ir ao show, que aconteceria dali 03 meses, para
se dedicar exclusivamente ao seu bebê hoje com cinco meses, em razão de toda
necessidade que um bebê nesta idade tem, usando as seguintes palavras:
“Quando for a hora eu volto
a ter a minha vida.”
Alto lá! Como
assim quando for a hora volto a ter a minha vida?
Essa é
sua vida! Sua vida de mãe, de mulher, de esposa, de filha, de amiga, profissional,
enfim, são todos esses os papéis que precisamos desempenhar. E desempenhá-los
saudavelmente.
Percebo
que hoje existe um movimento importante das mulheres que estão optando por não
trabalharem fora para cuidar e educar seus os filhos – e afirmo com todas as
letras que, se minha condição permitisse eu faria o mesmo – mas, existem
milhares de outros papéis que precisamos desempenhar.
Inclusive,
um dos grandes aprendizados desta vida é a conciliação destes papéis.
Diante
desta história fico me perguntando quantas e quantas mães não se permitem viver
momentos de prazer, sozinhas, com seus maridos, sem os seus bebês porque estão
enclausuradas num modelo predefinido de maternidade. Porque podem ser vista
pelos outros como mãe desnaturada. Ou talvez haja um temor escondido de que seu
bebê "deixe de amá-la" por este “abandono”. Ou talvez por haver uma culpa latente.
Não sei
se é este o caso específico, porém, fez-me pensar em quantas mães vivem
aprisionadas dentro de sua maternidade vivendo orientações, recomendações,
julgamentos de todo o mundo, menos de si mesma.
Acredito
ser importante e saudável para a relação mãe-bebê que a mãe tenha seus momentos
exclusivos com o bebê, assim como é importante para o bebê relacionar-se com
outras pessoas que não os pais. É
importante e saudável que a mãe permita-se cuidar de si mesma, de
seu corpo, de sua mente, de sua alma, pois cuidar de si mesma também é cuidar do
seu bebê.
A melhor
analogia que conheço para apoiar minha opinião sobre este assunto vem do
procedimento de segurança dos aviões: “Máscaras cairão sobre suas cabeças,
coloque-as primeiro em você e depois nas crianças ao seu lado.”
É
bastante óbvio que primeiro precisamos estar bem com nós mesmas para podermos promover o
bem-estar a quem quer que seja, principalmente, o bem-estar de nossos filhos.
Afinal, não é
disso que nossos bebês precisam? De mães e pais felizes? Autenticamente
felizes?
Claudia A. Xavier
Mãe da Olívia nascida de Parto Domiciliar na Água
É Terapeuta de Orientação Transpessoal e
É Terapeuta de Orientação Transpessoal e
Desenvolve Programas de Gestação Consciente e Preparação para o Parto
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