domingo, 15 de janeiro de 2012

É PRECISO SAIR PARA SE ENCONTRAR


Dia desses, ouvi uma "mãe-recente" discursando a respeito dos motivos pelos quais ela deixaria de ir ao show de um dos seus cantores favoritos.

O motivo apontado me pareceu muito nobre e bastante coerente num primeiro momento. Ela dizia que não iria ao show do cantor, pois acreditava que não era necessário deixar seu bebê com outra pessoa, para curtir o espetáculo, pois este momento que ela estava vivendo era de dedicação exclusiva a ele (ao bebê).

Até aí, compreendi a decisão e achei bastante coerente a fala e atitude desta puérpera. Afinal, eu também abri e ainda abro mão de muitos eventos sociais depois que minha filha nasceu e faria tudo novamente.

Entretanto, o que me chamou atenção nesta estória foi que, pouco tempo depois descobri que o bebê tinha na ocasião cinco meses e o referido show, do seu cantor favorito, aconteceria dali há três.

Ou seja, quando o show tiver ocorrido, o bebê estará com oito meses de idade. E, obviamente, um bebê com oito meses de idade não é o mesmo bebê de cinco meses. Já terá sido introduzido à alimentação complementar, já estará mais maduro, talvez até engatinhando, quem sabe até andando? Estará descobrindo mais e mais o mundo e apropriando-se de sua independência. Afinal este é o caminho que os filhos percorrem (ou deveriam percorrer).

Em três meses, as necessidades dele serão outras e as necessidades desta mãe também.

Ao tomar esta decisão "prematura", sobre ir ou não ao show, acredito que esta mãe não levou em consideração os fatores apontados. Mas, tudo bem, isso é altamente perdoável, porque durante o puerpério a mulher fica fusionada ao seu bebê, vivendo uma espécie de simbiose, o que a dificulta e muito a tomada de decisões, principalmente as de longo prazo.

Porém, o estranhamento maior que observei nessa estória, foi que esta mãe terminava seu discurso sobre a escolha de não ir ao show, que aconteceria dali 03 meses, para se dedicar exclusivamente ao seu bebê hoje com cinco meses, em razão de toda necessidade que um bebê nesta idade tem, usando as seguintes palavras: 

“Quando for a hora eu volto a ter a minha vida.”

Alto lá! Como assim quando for a hora volto a ter a minha vida?

Essa é sua vida! Sua vida de mãe, de mulher, de esposa, de filha, de amiga, profissional, enfim, são todos esses os papéis que precisamos desempenhar. E desempenhá-los saudavelmente.

Percebo que hoje existe um movimento importante das mulheres que estão optando por não trabalharem fora para cuidar e educar seus os filhos – e afirmo com todas as letras que, se minha condição permitisse eu faria o mesmo – mas, existem milhares de outros papéis que precisamos desempenhar.

Inclusive, um dos grandes aprendizados desta vida é a conciliação destes papéis.

Diante desta história fico me perguntando quantas e quantas mães não se permitem viver momentos de prazer, sozinhas, com seus maridos, sem os seus bebês porque estão enclausuradas num modelo predefinido de maternidade. Porque podem ser vista pelos outros como mãe desnaturada. Ou talvez haja um temor escondido de que seu bebê "deixe de amá-la" por este “abandono”. Ou talvez por haver uma culpa latente.

Não sei se é este o caso específico, porém, fez-me pensar em quantas mães vivem aprisionadas dentro de sua maternidade vivendo orientações, recomendações, julgamentos de todo o mundo, menos de si mesma.

Acredito ser importante e saudável para a relação mãe-bebê que a mãe tenha seus momentos exclusivos com o bebê, assim como é importante para o bebê relacionar-se com outras pessoas que não os pais. É importante e saudável que a mãe permita-se cuidar de si mesma, de seu corpo, de sua mente, de sua alma, pois cuidar de si mesma também é cuidar do seu bebê.  

A melhor analogia que conheço para apoiar minha opinião sobre este assunto vem do procedimento de segurança dos aviões: “Máscaras cairão sobre suas cabeças, coloque-as primeiro em você e depois nas crianças ao seu lado.”

É bastante óbvio que primeiro precisamos estar bem com nós mesmas para podermos promover o bem-estar a quem quer que seja, principalmente, o bem-estar de nossos filhos.

Afinal, não é disso que nossos bebês precisam? De mães e pais felizes? Autenticamente felizes?



Claudia A. Xavier
Mãe da Olívia nascida de Parto Domiciliar na Água 
É Terapeuta de Orientação Transpessoal e 
Desenvolve Programas de Gestação Consciente e Preparação para o Parto

Nenhum comentário:

Postar um comentário